BRUXAS DE SALÉM

BRUXAS DE SALÉM
QUANDO A IGNORÂNCIA TRIUNFA

Sarah Good no banco dos réus:
foi enforcada.
(Museu de Salém)

SALÉM, 1692

Depois de Tituba, as três primeiras pessoas a serem acusadas pelas meninas foram Bridget Bishop e Sarah Good, duas mulheres meio mendigas da comunidade, e Sarah Osborne, que, simplesmente pelo fato de quase não freqüentar a igreja, era considerada uma mulher de vida dissoluta.

Foi instaurado um tribunal na cidade para julgar os casos de bruxaria, e o governador de Massachusetts mandou um representante - que também era puritano -, para comandar o tribunal.

As meninas acusavam sistematicamente, e em determinado momento 150 pessoas abarrotavam a prisão esperando sua vez de depor, enquanto outras eram torturadas e executadas na forca. Doze pessoas foram executadas, dezenas de outras torturadas. A histeria tomou conta do lugar, e mesmo pessoas influentes começaram a ser acusadas, e nem mesmo os animais foram poupados da acusação de bruxaria: dois cachorros foram enforcados!

Por mais paradoxal que pareça, se a pessoa confessasse que realmente tinha parte com o demônio, escapava das punições, pois se acreditava que a confissão quebrava o pacto com o diabo, minando-lhe a força de atuação. Mas a vergonha de confessar isso, de ficar marcado frente à comunidade, levou muitas pessoas a preferir os mais hediondos métodos de tortura, como a colocação gradual de pedras sobre o corpo do acusado, que, se não confessasse, morria esmagado. Com os que morreram sob tortura, as vítimas chegaram a 20.


Rebecca Nursey,
72 anos, foi torturada
e acorrentada
pelo pescoço
(Museu de Salém)

Ciúmes, rixas, invejas, cobiça, intriga, tudo foi levado para o tribunal como se fosse bruxaria. Perdeu-se qualquer consideração pelas pessoas: Rebecca Nursey, uma senhora de 72 anos, mãe de 11 filhos e 26 netos, caridosa e religiosa, foi sumariamente enforcada simplesmente porque o tribunal apresentou nos autos “provas concretas” contra ela.

O terror pairava sobre a comunidade, os órfãos vagavam famintos pela cidade, e a normalidade só voltou a Salém quando a própria mulher do governador foi acusada de bruxaria, por ser amiga da senhora Carey, cujo marido, rico e influente, subornou os guardas da prisão para que a libertassem.

Imagem: Processo de Rebecca Nursey
MUSEU DE SALÉM

O governador extinguiu o tribunal, e, mais tarde, as excomunhões foram suspensas, as famílias dos acusados indenizadas e a reputação dos executados foi restaurada.

Betty Parris alguns anos mais tarde se casou com um comerciante, e se mudou de Salém. Mary Walcott morreu jovem. Abigail Williams enlouqueceu. E de Anne Putnan nada se sabe. Salém se tornou a meca das Bruxas, e hoje a cidade mantém um museu estilo noir para os turistas.


No chão do MUSEU DE SALÉM ...

Um disco com a inscrição de todos os nomes das pessoas que foram executadas por bruxaria. Desde então, ninguém nunca mais foi condenado nos Estados Unidos por prática de bruxaria.



Uma das bruxas que vivem em Salem:
elas querem seus direitos reconhecidos

BRUXAS DE SALEM SAEM DO ARMÁRIO PARA LUTAR POR DIREITOS CIVIS
Fonte: globo.com

SALEM, MASSACHUSETTS - Ela prepara poções, usa roupas pretas compridas e diz que consegue falar com os mortos e fazer feitiços com um leve movimento da varinha de condão. Laurie Cabot tem orgulho de ser bruxa e está lutando pelos seus direitos.

Com 73 anos de idade, a verdadeira bruxa de Salem diz que sua magia está mais forte do que nunca, enquanto senta-se em uma cadeira bem acolchoada à frente da mesa cor-de-rosa onde faz suas leituras psíquicas -e onde, diz ela, os espíritos dos mortos freqüentemente "dão as caras". "Não posso vê-los com os olhos, simplesmente sei que estão lá", diz Cabot, que tem uma tatuagem de espiral na bochecha e cabelos grisalhos longos que cobrem seus ombros e boa parte de suas costas.

"Eles falam comigo e me dizem coisas que ninguém mais sabe. E, é claro, a pessoa para quem eu faço a leitura ou fica muito chocada, ou termina chorando muito", diz ela. Cabot afirma que foi a primeira bruxa a praticar magia abertamente em Salem, a cidade da Nova Inglaterra que ficou conhecida quando um grupo de garotas acusou empregados, vizinhos e parentes de praticarem bruxaria em 1692. Enquanto o medo, a intolerância e as denúncias se espalhavam, 19 pessoas foram executadas antes que a razão prevalecesse.

Na semana passada, enquanto Cabot se preparava para sua temporada mais ativa, o Ano Novo Wicca, Samhain, que coincide com o Halloween, ela lutava contra a opinião pública pelos direitos civis das bruxas. Entre consultas psíquicas e o tempo que dedica à sua loja de artigos para bruxas, Cabot envia cartas para líderes de Massachusetts avisando-os dos perigos legais de retratar as bruxas como velhas horríveis.

Cartazes pendurados em lugares públicos com a imagem de bruxas como velhas montadas em vassouras ou como mulheres de rosto verde e olhar maligno pode levar a processos por difamação por parte de bruxas, em sinal de protesto contra o que elas vêem como violações a seus direitos civis.

"Se eles não nos protegerem e nos tratarem como todo mundo, eles podem ser processados", disse Cabot, que fundou a Liga das Bruxas pela Auto-Consciência em 1986, depois do lançamento de "As Bruxas de Eastwick", filme que as bruxas dizem fazer elas parecerem "estúpidas".



Não-satanistas

Nos anos 80, Cabot empreendeu uma campanha de cartas para os principais jornais e televisões explicando que as bruxas não são satanistas, não praticam o mal e seguem uma religião pagã pacífica, a Wicca, que é reconhecida legalmente. Depois daquele arroubo de ativismo, ela retornou à sua principal paixão -sua magia e sua loja.

"Passei adiante o trabalho de escrever cartas para outro grupo, mas durante todos esses anos elas não fizeram nada, então estamos começando novamente agora".

"Eu gostaria de convocar todos os Estados Unidos, cidade por cidade, e enviar a cada autoridade este memorando", diz ela, mostrando um panfleto de quatro páginas sobre os direitos constitucionais das bruxas.


Em uma seção, o panfleto cita uma decisão da Suprema Corte de Apelação dos EUA: "Embora existam aspectos da filosofia Wicca que possam parecer estranhos ou incompreensíveis para a maioria das pessoas, o simples fato de que uma crença seja incomum não a priva de proteção
constitucional".




Ela também quer que o Exército permita que soldados que praticam Wicca tenham seus símbolos inscritos em seus túmulos, que são feitos pelo governo.

Em 1975, o governador de Massachusetts Michael Dukakis proclamou Cabot a bruxa oficial de Salem, a cidade que é sinônimo de magia.

Hoje, Salem tem um número abundade de adeptos do paganismo e da bruxaria, estimados entre 500 e 1.000. Lojas que vendem cartas de tarô e suprimentos para magia se enfileiram nas ruas, que se enchem de turistas todos os anos durante o Halloween, em 31 de outubro.

A cidade tem uma sorveteria chamada "Dairy Witch". Lojas como "O Armário de Vassouras" e "Angélica dos Anjos" conduzem "canalizações psíquicas". Existe um "Museu das Bruxas de Salem", a "Casa da Bruxa" e uma "Masmorra das Bruxas".

"Isso é visto como uma terra da fantasia dentro da comunidade pagã", afirma Jerrie Hildebrand, bruxa e ministra do Santuário Circular, uma organização que oferece aconselhamento e serviços espirituais. "Nós costumamos nos referir a essa época do ano como a temporada de alugue-uma-bruxa."